Aqui, a abordagem do Tarot e de outros instrumentos oraculares como o I Ching não será divinatória, embora essa metodologia também seja viável. Aqui, vamos considerar tais sistemas de símbolos como “alfabetos” que tentam expressar uma linguagem não-sequencial, ou seja, “sincronística”.
Afinal, é isso que se procura quando alguém tenta fazer uma “consulta ao I Ching”. O que se faz é uma pergunta na linguagem humana, e essa pergunta recebe uma resposta em um outro tipo de linguagem, que dá uma resposta significativa para o momento presente, mesmo quando trata do instante futuro. Por isso, tratando cada arcano do Tarot, seja maior ou menor, como um “fonema” ou “vocábulo” dessa linguagem sincronística.
Por exemplo, as catástrofes climáticas e até mesmo as previsões astrológicas sugerem que estamos chegando a um momento decisivo para toda a humanidade. E isso reaviva em nós os mitos e fábulas sobre um juízo final.
E o que a linguagem oracular, principalmente os arcanos do Tarot, tem a dizer-nos sobre o “Juizo Final”? Bom, nesse caso, temos um arcano maior que corresponde exatamente a esse arquétipo. É o arcano de número 20, O Julgamento.
Os arcanos do tarot sempre podem ser associados a experiências importantes em nossas vidas. Assim também é com o arcano O Julgamento. Você encontrou um propósito para sua vida? Você está se sentindo renovado e entusiasmado com um projeto? Um interesse casual transformou-se em vocação e centro de seus interesses? Você finalmente se sente capaz de deixar de lado as ambiguidades e confusões do passado? Quando você sente que chegou a hora de tomar uma decisão importante que não pode mais adiar, ou quando você está em uma situação em que os eventos de sua vida parecem ter se encaixado para culminar neste momento, o arcano que corresponde a tais experiências é O Julgamento.
O Julgamento é numerado na posição 20 entre os arcanos maiores do Tarot. Esse arcano está mais intimamente relacionado com os outros dois arcanos que terminam em zero, O Louco (carta número 0) e A Roda da Fortuna (carta número 10). Observe como as mesmas montanhas azuis aparecem em O Julgamento e O Louco na versão do baralho criada por Raider e Waite. O Louco contempla o universo de modo indiferenciado, e segue sem rotas definidas. Já o arcano A Roda da Fortuna separa o mundo em caminhos que levam a posições acima e abaixo. E, por fim, O Julgamento converge todos os caminhos em um só destino.
Na versão de Waite e Raider, o que vemos na metade superior desta carta é uma representação de um anjo com cabelos que lembro o fogo. Suas asas estão sobre nuvens esvoaçantes, das quais seus braços se estendem para segurar uma grande trombeta dourada, na qual ele pressiona seus lábios. Preso ao instrumento musical está uma bandeira branca quadrada com uma cruz vermelha. Abaixo dele, as sepulturas dos falecidos se abriram e os mortos começaram a ressuscitar. Esta é a cena do juízo final, quando o arcanjo Gabriel tocará sua trombeta e convocará os mortos a se levantarem.
Vamos observar novamente a representação da carta na versão de Raider e Waite.
Observe que:
(1) O anjo têm os cabelos de fogo, pois este arcano está associado ao fogo alquímico;
(2) A trombeta que tem o poder de reviver os mortos para a vida eterna revela a natureza vibratória/ondulatória da linguagem divina que dá vida ao mundo;
(3) A bandeira com a cruz representa que o julgamento tem origem divina, unificando os estados opostos;
(4) Os humanos estão nus, como quem está nascendo ou voltou ao Éden, onde os antepassados da humanidade viviam despidos;
(5) Os túmulos representam o fim de uma antiga forma de viver, de um mundo anterior que se tornou pequeno demais e no qual a permanência significa um tipo de morte;
(6) As montanhas azuis atrás, como visto, são as mesmas montanhas que aparecem nos arcanos O Louco e na Lua, e ilustram o fim de uma jornada que começou com a força primeva do primeiro arcano e passou pelos desafios do segundo.
Quando o Julgamento aparece na posição do passado, você tomou uma grande decisão ao seguir uma determinada forma de pensar. Isso pode ter acontecido na sua juventude ou há algumas semanas. Esta carta não garante que você tomou a decisão certa. Seu alicerce atual se baseia em ter seguido um caminho específico, e os resultados dessa decisão podem ser o motivo pelo qual você está buscando uma leitura de Tarot. Independentemente disso, você pode estar definindo quem você é pela decisão que tomou no passado ao seguir um certo chamado. Agora você está avaliando onde está na sua vida em relação a onde quer estar por causa dessa grande mudança.
Na posição presente, o Julgamento reflete seu conflito interno em relação a tomar uma grande decisão. A finalidade dessa escolha é bem clara para você, mesmo que pareça pequena para os outros e talvez até seja desconsiderada por aqueles próximos a você. A presença desta carta pode oferecer pouca orientação sobre sua escolha. Enquanto muitas cartas de Tarot trazem uma sensação de inevitabilidade, a carta do Julgamento na posição presente é poderosa, pois o seu livre-arbítrio está em jogo aqui. Tudo o que esta carta representa é que a decisão que você está prestes a tomar é, de fato, épica.
Uma colocação especialmente poderosa desta carta é na posição futura. Quando o Julgamento está aqui, a confusão, culpa, fardos e miséria estão prestes a desaparecer. Um incidente que está por vir permitirá que você finalmente veja as possibilidades. Será como se você tivesse sido um zumbi em um cemitério criado por você mesmo e o toque repentino de uma trombeta irá tirá-lo desse torpor, dando-lhe uma nova chance na vida, com um sentido de propósito definido e uma direção clara.
O impacto do Julgamento não indica que este é um acontecimento único que só pode ocorrer uma vez na vida – a presença desta carta pode marcar uma grande reviravolta em sua vida, mas é igualmente provável que você tenha muitas outras, assim como nenhuma. A carta não indica com que frequência uma grande mudança pode ocorrer, apenas que seu impacto é absoluto e influente.
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