No início de 2024, o geneticista e vencedor do Prêmio Nobel de Medicina de 2006, Andrew Z. Fire, anunciou a descoberta de “entidades” estranhas escondidas no corpo humano. Chamadas de “entidades biológicas bona fide” no estudo, tais “seres” podem representar uma classe inteiramente nova de vida – se é que estão mesmo vivas. “É insano”, resumiu um dos pesquisadores.

Batizadas de “obelisks”, esses pequenos anéis de RNA podem se dobrar e formar estruturas que se assemelham a hastes semelhantes a obeliscos, daí seu nome. Os obelisks também são surpreendentemente comuns em nosso microbioma, isto é, na comunidade de vírus, bactérias e fungos que vivem em nossos corpos, principalmente no sistema digestivo e na boca humana.

Tais “criaturas”, no entanto, passaram despercebidas até agora. E representam o mais novo achado em uma lista crescente de misteriosos “agentes genéticos”. Esses “agentes” estavam eram ignorados pela ciência até recentemente, quando novas tecnologias e o trabalho acumulado de décadas de pesquisa culminaram em uma revolução na microbiologia.

O MUNDO INEXPLORADO DO MICROBIOMA HUMANO

Os obelisks foram descobertos por uma equipe liderada por Fire e seus colegas, que publicaram o resultado da pesquisa em um artigo científico em janeiro de 2024. Usando um filtro de caça ao genoma que desenvolveram especialmente para essas “entidades”, os pesquisadores encontraram pouco menos de trinta mil obelisks no banco de dados do Integrative Human Microbiome Project (“Projeto Integrativo do Microbioma Humano”), um acervo de microbiomas utilizado por pesquisadores em todo o mundo para estudar a saúde humana.

A seguir, os cientistas pesquisaram outros bancos de dados de microbiomas existentes em várias partes do mundo. Para sua surpresa, descobriram ainda mais criaturas do mesmo tipo. Em uma dessas base de dados, 6,6% das amostras intestinais e impressionantes 53% das amostras da boca continham obelisks.

Os obelisks representam uma nova classe de organismo – se é que se pode chamá-los assim. Tais “entidades bona fide” estão em algum lugar entre os vírus e os viroides — o RNA circular de fita simples que se pensava infectar principalmente plantas.

Isso tudo é muito recente, e está fazendo os pesquisadores mudarem totalmente a forma como classificam o mundo microscópico, como os micro-organismos evoluíram e quão pequenas e simples essas entidades replicantes podem ser. Se ainda é objeto de debate científico definir se os vírus são seres vivos ou não, o desafio pode ser ainda maior com “entidades” mais simples e menores como os obelisks.

“É insano”, disse Mark Peifer, biólogo da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, à revista Science. “Quanto mais olhamos, mais coisas malucas encontramos.” Tudo é ainda envolto em mistério, pois até agora a função (se é que há uma) dos obelisks para o funcionamento do corpo humano é inteiramente desconhecida dos cientistas.

UM MISTÉRIO AINDA A SER DESVENDADO PELA CIÊNCIA

Quando perguntado sobre o assunto, Fire recusou-se a dar entrevistas, ressaltando que a descoberta ainda precisa ser analisada pela comunidade científica antes que se fale mais a respeito do assunto para o público. Mas, no artigo, seus autores afirmam que “a prevalência e a aparente novidade desses elementos sugere que há mais a ser aprendido sobre sua interação com a vida microbiana e humana”.

“Acho que esse estudo é mais uma indicação clara de que ainda estamos explorando as fronteiras deste universo viral”, disse o biólogo computacional Simon Roux, do Lawrence Berkeley National Laboratory, à Science. Roux também está buscando novos tipos de entidades semelhantes a vírus, e ajudou a compilar um banco de dados com mais de quinze milhões de sequências relevantes.

Uma grande questão é a posição dessas criaturas na história da evolução. Os vírus evoluíram a partir de viroides e obelisks cada vez mais complexos? Ou surgiram primeiro e depois degeneraram nessas estruturas mais simples? “Essa é uma das partes mais empolgantes de estar nesta área agora”, diz Roux, “Podemos ver a imagem da evolução de longo prazo dos vírus na Terra emergindo lentamente”.

Segundo nossos postulados de investigação, o espírito existe como consequência também das leis da evolução natural que produzem o organismo humano, e é sob esse mesmo regime que espírito sobrevive à morte do corpo físico. Se esse postulado for verdade, há algum papel para essas “entidades” no condicionamento do espírito durante a vida orgânica? Qual seria?


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Alex Siegmann