O relógio está correndo. Ao menos segundo o estudo publicado por um grupo de astrofísicos em setembro de 2024. Esses pesquisadores estimam que qualquer civilização tecnológica em crescimento exponencial tem apenas 1.000 anos até que seu planeta fique quente demais para sustentar a vida. O modelo simula diversos fatores em planetas semelhantes à Terra e revela que até pode levar menos de 1.000 anos para que uma civilização alienígena avançada destrua seu próprio planeta com as mudanças climáticas provocadas pelo seu crescimento, mesmo que se trate de uma sociedade que dependa apenas de energia renovável [1].

Quando os astrofísicos simularam a ascensão e queda de civilizações alienígenas com, descobriram que se uma civilização experimentasse crescimento tecnológico e de consumo de energia exponenciais, teria menos de 1.000 anos antes de o planeta alienígena ficar quente demais para ser habitável. Isso seria verdade mesmo se a civilização usasse fontes de energia renováveis, devido a escapes inevitáveis na forma de calor, conforme previsto pelas leis da termodinâmica.

Embora os cientistas quisessem entender as implicações para a vida além de nosso planeta, o estudo foi inicialmente inspirado pelo uso de energia humana, que cresceu exponencialmente desde os anos 1800. Em 2023, os humanos usaram cerca de 180.000 terawatts-hora (TWh).

Grande parte dessa energia é produzida por gás e carvão, o que está aquecendo o planeta em um ritmo insustentável. Mas mesmo que toda essa energia fosse gerada por fontes renováveis, como energia eólica e solar, a humanidade continuaria crescendo e, portanto, continuaria precisando de mais energia. “Isso levantou a questão: ‘Esse ritmo de crescimento é algo sustentável a longo prazo?'”, questionou Manasvi Lingam, astrofísico da Florida Institute of Technology (Florida Tech) e coautor do estudo, em uma entrevista ao site de divulgação científica Live Science.

Fumaça poluente expelida por indústria.
A exploração descontrolada de fontes de energia levaria à destruição em todas as simulações.

Lingam e Amedeo Balbi, professor associado de astronomia e astrofísica na Universidade Tor Vergata de Roma, estavam interessados em aplicar a segunda lei da termodinâmica a esse problema. Essa lei afirma que não existe um sistema energético perfeito, onde toda a energia criada possa ser utilizada de forma eficiente. Em algum momento, parte da energia sempre escapará do sistema. E essa energia perdida fará com que o planeta aqueça ao longo do tempo.

Nesse caso, a “casa inundada” é a temperatura atmosférica de um planeta. Um acúmulo de vazamento de energia, mesmo de energia verde, eventualmente superaquecerá qualquer planeta a ponto de ele não ser mais habitável. Se os níveis de energia não forem controlados, esse nível desastroso de mudança climática pode ocorrer em menos de 1.000 anos desde o início da produção de energia, descobriram os astrofísicos.

Para os cientistas autores do estudo, esse limite de 1.000 anos também torna muito mais difícil encontrar vida em outros lugares do cosmos. Afinal, 1.000 anos são um piscar de olhos em termos cósmicos, com planetas como a Terra levando centenas de milhões de anos para se tornarem habitáveis.

Mas a extinção alienígena não é o único desfecho possível do uso exponencial de energia, assegurou Lingam.

“Você pode pensar nisso como uma banheira com vazamento”, ele explicou. “Se uma banheira que contém apenas um pouco de água tem um vazamento, apenas uma pequena quantidade pode escapar”. Mas a medida em que a banheira é enchida cada vez mais — ou seja, a medida em que os níveis de energia aumentam exponencialmente para atender à demanda — um pequeno vazamento pode subitamente se transformar em uma casa inundada.

No entanto, existem outras opções, tanto para os humanos quanto para civilizações alienígenas. Em vez de aceitar a extinção ou desenvolver a tecnologia para mover a produção de energia para fora do planeta, uma civilização poderia optar por estabilizar seu crescimento, sugeriu Lingam.

“Se uma espécie optou pelo equilíbrio, aprendeu a viver em harmonia com seu ambiente, essa espécie e seus descendentes poderiam sobreviver talvez por até um bilhão de anos”, concluiu.

[1] Fonte: Waste Heat and Habitability: Constraints from Technological Energy Consumption, de Amedeo Balbi e Manasvi Lingan, setembro/2024

Alex Siegmann